quarta-feira, 8 de julho de 2009

road trip music and momentary mental deviations...

fui à galiza. foi uma espécie de 24 horas num lugar perdido da região autónoma espanhola. o plano de viagem era simples e o objectivo claro, mas nobre, acompanhar o meu pai na sua deslocação a guitiriz, pequena e insignificante localidade a 30 km de lugo. atenção tendo em conta que era meu pai não houve garrafas de vinho tinto engolidas à velocidade dos rápidos do rio minho, nem imigrantes ilegais transportados na mala junto a uns galináceos, também eles muito suspeitos, nem foragidos hippies em claríssimo devaneio sexual e tão pouco um rastafari pregando jah na ponta de um charro enquanto exalta a paz e a liberdade dos escravos em suaves ritmos reggae. pelo contrário, houve condução suave, mas objectiva, e um nível de conversa interessante a focar os principais temas da actualidade como a construção de uma nova praça de touros em são bento, a necessidade de criar o partido da abstenção e o regresso aos manifestos, dos quais fui um preconizador no fim dos anos 90.

A companhia extra num clio comercial do ano blah, como em quase qualquer outro carro de gama baixa alugado e que não traz uma miúda gira como prémio de consolação, é a rádio. ora entrar em espanha é entrar num universo quase paralelo da radiofonia. os rigorosos critérios de qualidade são: ritmos latinos, um jogo de ancas aceitável e 20 lugares comuns em cada canção. assim não só garantes a tua presença nas mais tocadas do ano, como ainda te habilitas a ser el próximo éxito de verano. a outra possibilidade é seres um clássico dos 80 como este ¿qué hace una chica como tu en un sítio como este? claramente a pergunta a fazer à miúda gira, se esta fosse disponibilizada como extra pelo serviço de rent a car.


os burning são um dos grupos que marcaram a movida madrilena nos anos 80, década em que a capital espanhola experimentou uma revolução cultural e artística impressionante e que marcará a transição do regime franquista para a democracia. hombres g (como os beatles este grupo protagonizou diversos filmes) radio futura, tequila, nacha pop, los secretos, a sempre extravagante e ícone gay alaska y los pegamoides, o magnífico escritor joaquín sabina (embora a sua voz de cocainómano e bêbado seja muito melhor que a voz da juventude), golpes bajos, gabinete caligari, e os emblemáticos mecano (a história do grupo foi refeita num musical que é um êxito de bilheteira) são alguns dos nomes que saíram deste movimento e perduram na memória dos espanhóis. no cinema, pedro almodóvar é incontornável mas também lá estão fernando trueba ou fernando colomo. os anos 90 seriam de abrandamento e da afirmação de barcelona como capital cultural espanhola. os anos 2000 (como referir esta década?), na minha opinião, tem sido o regresso de madrid como centro cultural e artístico do país num contexto claro de descentralização e de uma diversidade de oferta nas diferentes regiões autónomas muito forte.

sim, tenho uma capacidade inaudita de me desviar dos objectivos. a rádio espanhola tem, no entanto, uma espécie de objecto não identificado que habita as ondas hertzianas. é a rne 3, uma das, pelo menos 5, rádios nacionais. um dia num outro carro alugado e numa outra viagem por espanha, a rádio 3, conhecedora e orientadora maior de tudo o que é intelectualmente superior, entrevista uma artista sobre a sua obra e qual é o meu espanto quando decide transmiti-la (a obra) em directo. ora falávamos de vídeo instalações. desta vez a coisa não me parece tão soberbamente pretensiosa, ao contrário é apenas curiosa. ficou marcado como outro momento musical desta viagem. a música do taiwanês lin cheng xiang.


finalmente de regresso a portugal o aparelho de rádio, que de 20 em 20 minutos decidia, soberanamente, desligar-se, readquire a capacidade de sintonizar as estações nacionais. e embora muito me agrade saber que a política em espanha em nada difere da portuguesa e que o cristiano ronaldo vende 15 t-shirts por minuto, confesso que é com rejubilo que recebo a notícia da vontade do cds-pp e do seu líder voltar à carga na história da supervisão, do bpn e de ainda juntar à festa o bpp. a, amigo, proponho um manifesto… é, portanto, na tsf, que depois de escutar a playlist de hélder moutinho, marcada pelas músicas do mundo (do que haveria de ser? músicas da galáxia? músicas do meteorito em rota de colisão com a terra? músicas do universo imaginário do interior da narina esquerda do carlos paião?) e já muito perto de casa que oiço esta canção da lisa ekdahl.


caso para perguntar: ¿qué hace una chica como tu en un sítio como este (post)?

x.

ps.: no futuro algumas das referências musicais usadas serão postadas...


Sem comentários: